segunda-feira, 23 de julho de 2012

O valor da amizade

Síntese matéria publicada na Revista Bons Fluídos – novembro/10 nº 140


Os amigos são fios de ouro. Tramam uma rede segura e preciosa sobre a qual podemos nos jogar de olhos fechados. Estarão a postos tanto nos momentos críticos quanto nos dias de triunfo. O que poucos sabem é que sua presença em nossa vida ainda fortalece a saúde e nos deixa mais motivadas no trabalho.

Se o astral está nublado, o amigo chega e faz o Sol furar a barreira do desânimo. Sabe como ninguém disparar uma piada, uma palavra de incentivo, um puxão de orelha com precisão cirúrgica, uma demonstração gratuita de afeto. 

Acredite, o fato de pessoas queridas gravitarem ao nosso redor está diretamente ligado ao fortalecimento do sistema cardiovascular e ao rendimento no trabalho. Amizade é mesmo um escudo anti-estresse,  apresenta uma pesquisa de 2001 produzida na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, com indivíduos acometidos de doenças cardíacas. O resultado, surpreendente, mostrou que os mais refratários a companhias, com menos de quatro amigos, corriam duas vezes mais riscos de morrer por deficiência desse órgão. “Os amigos são ótimos amortecedores quando enfrentamos obstáculos e desafios, o que melhora nosso desempenho cardiovascular, nossa capacidade de recuperação e ainda diminui os níveis de tensão”,.

A psicóloga Ana Maria Rossi, também reconhece a ponte entre o vínculo fraterno e o bem-estar físico e psíquico do ser humano. “Amizades íntimas satisfazem à necessidade de aceitação, confirmam valores e representam uma escuta fundamental para que nós superemos obstáculos com mais eficiência”, afirma. Em termos fisiológicos, a falta desse elo nos afeta da seguinte maneira: “O hormônio cortisol, liberado excessivamente em situações de tensão e perigo enfraquece o sistema imunológico. É por isso que indivíduos solitários são mais vulneráveis aos efeitos do estresse e acabam adoecendo”, completa Ana Maria. Numa pesquisa realizada pela entidade, em 2009, 48% dos entrevistados afirmaram que dependiam dos amigos para relaxar. Trocando em miúdos, estar ao lado de pessoas especiais se mostrou, empiricamente, uma das formas mais saborosas de inundar o corpo de endorfina, o hormônio do prazer.

“Novos estudos sugerem que amizades no trabalho geram um aumento substancial- e não uma queda- da satisfação com o emprego e do sucesso dentro da carreira”, aponta o autor. Isso significa ter “sete vezes mais chances de empenho na sua função”. Segundo o especialista, quem tem o privilégio de contar com camaradas no ambiente de trabalho se diverte enquanto produz, faz mais em menos tempo, tem boas idéias, sente-se valorizado e consegue desenvolver seus pontos fortes. Estudos também provam que amigos são grandes influenciadores de hábitos e crenças. Por exemplo, se sua amiga segue uma dieta saudável, você tem cinco vezes mais chances de controlar a qualidade do alimento que coloca no prato. A mesma conta vale para a prática de exercícios físicos. Por tudo isso, afirma Rath: “Relacionamentos sociais são o maior indicativo de felicidade geral”.

“Com os amigos, podemos compartilhar experiências, solicitar e oferecer ajuda, enfim, estabelecer relações afetivas que poderão nos acompanhar por toda a vida, nos altos e baixos”. Mas essa via de mão dupla só pode existir se estiver assentada sobre a confiança. Como qualquer parceria, a amizade se abastece das afinidades, mas requer esforço, doação de tempo e atenção. Não basta ligar o piloto automático e achar que dessa forma, seu círculo afetivo irá girar por si só. “Amigos não caem do céu. Temos de cultivá-los, muitas vezes fazendo pequenos sacrifícios em nome do outro.” Entre os cuidados implícitos no contrato da amizade, há ainda uma delicada cláusula: a franqueza. Até que ponto falar o que pensamos sem rodeios é benéfico para quem escuta?

Devido à admiração exacerbada, é comum idealizarmos os eleitos do coração. No entanto, nossas expectativas podem não ser correspondidas pelo simples fato de estarmos interagindo com seres humanos, falíveis e passíveis de serem tomados por sentimentos nada nobres, como inveja, a competitividade e o ciúme. Sim, tudo nessa vida tem um lado menos agradável. Reconhecer a existência dessas emoções perturbadoras, muitas vezes geradoras de culpa em quem sente ( e não gostaria de sentir), é o caminho para encontrarmos alívio. A encrenca perde força se formos tolerantes com nossos pares e, sobretudo, se soubermos diferenciar um deslize de uma atitude de má-fé. A transparência é capaz de evitar mágoas desnecessárias. Por exemplo, se você não dispõe de tempo para escutar os problemas de um amigo, melhor deixar claro que poderá atendê-lo com calma mais tarde do que oferecer um conselho rápido e pouco amoroso. Com o passar dos anos, as amizades, inevitavelmente, enfrentam testes como esses. Descobrimos, pela dor e pelo amor, com quem poderíamos contar de verdade e quem não é merecedor de nossa ternura. “Não precisamos ter um universo de amigos extraordinariamente amplo, a qualidade das relações parece ser o mais importante” aposta o escritor Tom Rath.

 “A diferença entre amigos e conhecidos é que os primeiros nos completam, estão disponíveis de verdade, já os segundos nos dão a falsa sensação de preenchimento, mas ali não há intimidade nenhuma. Os grandes amigos têm os ouvidos mais apurados que a boca; acolhem muito mais do que julgam.